Desisto do Brasil', diz filha de mulher morta a facadas por jogador de futebol

G1 Santos
Bárbara recebeu mensagem do suspeito que tentou se passar pela vítima (Foto: Reprodução/TV Tribuna)Bárbara recebeu mensagem do suspeito que tentou se passar pela vítima (Foto: Reprodução/TV Tribuna)
Bárbara Rabelo, filha de Iara Maria Matanzano, mulher assassinada por um jogador de futebol em Guarujá, no litoral de São Paulo, na terça-feira (6), falou sobre as circunstâncias que culmiraram com a morte da mãe. A jovem, que vive em Uberlândia, Minas Gerais, disse que esteve com Iara no último domingo (4), após ter passado cinco dias viajando com o marido, enquanto a mãe cuidava dos netos. Inconformada, ela desabafou: “Eu queria ser advogada para mudar o mundo, mas não consegui salvar nem a minha mãe". O suspeito do assassinato é Gianluca Gerolano, de 21 anos, que atuava como lateral-esquerdo nas divisões de acesso do futebol catarinense no começo do ano, mas havia sido dispensado recentemente. Após matá-la, ele teria abaixado as calças da vítima e colocado ketchup e óleo de cozinha nas nádegas dela.
A última conversa entre mãe e filha foi na segunda-feira (5), quando Iara relatou o que havia acontecido na última semana na vizinhança. “Na segunda-feira ela me ligou e a gente conversou bastante tempo. Aí que ela veio me contar o que já vinha acontecendo há duas semanas. Ela disse que tinha um casal no andar de cima que vivia brigando, e que ela interfonou um dia desses e disse: ‘Moço, não faz assim com a sua esposa, não é assim que você vai conseguir o amor dela'. Depois disso, ele passou a perseguir ela, saía para trabalhar e ele estava na escada com a vassoura na mão. Ele disse 'bom dia' e ela foi para o trabalho. Quando foi à noite, o interfone tocou e era ele, dizendo 'ah, você me deixou de coração partido’, e ela não quis dizer mais o que ele falou”, conta Bárbara.
Iara tinha 56 anos, uma filha e quatro netos (Foto: Silvio Muniz/G1)Iara tinha 56 anos, uma filha e quatro netos (Foto:
Silvio Muniz/G1)
Iara ainda contou outros detalhes para a filha. “Quando foi no outro dia, pela manhã, bateram na porta dela e ela desconfiou, porque o porteiro não avisou que subiu ninguém. Ela abriu a janela que dava para ver a porta, e era ele, disse que queria pegar uma vassoura emprestada. Ela falou que não tinha vassoura para emprestar, porque a funcionária ia chegar e usar a vassoura. Ela disse ‘o senhor me deixa em paz’, fechou a janela e foi trabalhar”, conta.
Barbara conta que a mãe, dias antes de ter falado com Gianluca pelo interfone, tinha percebido alguém andando pelo corredor, porque toda hora a luz do sensor apagava e acendia. Iara então falou para um funcionário do prédio o que estava acontecendo, e ele disse que a mulher do jogador ligou dias antes perguntando pelo marido, dizendo que eles haviam brigado e ela estava preocupada com ele, que saiu nervoso. Horas depois, a mulher voltou a procurar o funcionário, dizendo que o marido havia aparecido. O que ficou deduzido é que ele ficou essas três ou quatro horas sondando a minha mãe”, diz.
Bárbara disse que vai desistir do curso de Direito e sair do país (Foto: Reprodução/TV Tribuna)Bárbara disse que vai desistir do curso de Direito e
sair do país (Foto: Reprodução/TV Tribuna)
Bárbara lembra que pediu para a mãe reforçar a tranca da porta e passar a andar com o celular e o número da polícia sempre à mão, para que, caso ele tentasse arrombar a porta, ela escutaria e chamaria socorro. “Só que ficamos sabendo que ela chegou depois das 18h em casa, ele a pegou no corredor e entrou com ela no apartamento. Ela tentou lutar, jogou uma almofada pela janela, para tentar chamar a atenção de alguém, mas ele a esfaqueou três vezes. Ele ficou com ela até 1h lá dentro e eu ligando desesperada”, descreve.
Durante essas horas, Bárbara tentou ligar incessantemente para a mãe. “E ele com o telefone dela. Chamava três, quatro vezes e desligava. Houve vezes em que tocou até cair na caixa postal. Eu comecei a mandar mensagens, até que ele respondeu se passando por ela. Dizia ‘estou bem, só estou cansada’, mas escrito tudo errado e minha mãe escreve perfeitamente o português. Nisso, ficamos desesperados, entramos em contato com o prédio, chamaram um amigo dela, eles ligaram para a polícia e quando chegaram lá ela estava morta”, conta.
A polícia prendeu Gianluca Girolano em casa, no apartamento que fica em cima do da vítima. O suspeito já tinha atuado como lateral-esquerdo em um time que disputa a 3ª Divisão de Santa Catarina e estava passando os dias de folga na Baixada Santista, onde nasceu.  Após se contradizer durante o interrogatório, o jogador confessou ter cometido o crime, segundo ele, movido pela cocaína.
Gianluca matou a vizinha com três facadas no pescoço (Foto: Reprodução/TV Tribuna)Gianluca matou a vizinha com três facadas no
pescoço (Foto: Reprodução/TV Tribuna)
A filha da vítima estuda Direito, mas disse que pretende largar a faculdade. “Eu não consigo entender como um ser humano tira a vida de uma mulher boa, que ligou um dia pedindo para ele tratar a mulher dele com mais amor. Eu tenho que agradecer à polícia que fez o trabalho rápido, e esse monstro está preso. E eu quero dizer que desisto desse país. Eu faço Direito, mas desisto da faculdade hoje, porque a polícia prende e a Justiça, daqui a seis, oito, dez anos vai soltar, e ele vai voltar para a rua e minha mãe vai continuar morta”, desabafa.
Bárbara fala ainda que pretende sair do país por causa da violência. “Eu vou embora daqui. Vou sair desse país, porque tenho quatro filhos que adoravam a minha mãe. Sou filha única, era só eu e ela, eles estão na minha casa agora chorando a morte dela e eu vou ter que enterrar minha mãe. Eu desisto disso aqui. Desisto do Brasil”, diz.

Iara morava sozinha e trabalhava como corretora de imóveis. Na última conversa que mãe e filha tiveram, Iara disse que estava feliz, graças às vendas que vinha fazendo. “Eu queria ser advogada para mudar o mundo, mas não consegui salvar nem a minha mãe. Vocês da imprensa têm que mostrar isso, é o papel de vocês mostrar para as pessoas que isso não pode ser assim. Nosso código penal é de mil e novecentos e bolinha. Um homem que mata qualquer um vai embora para casa responder em liberdade, que valor tem a vida nesse país? Nenhuma. A revolução que a gente tem que fazer é essa, é por justiça. Eu não compreendo a palavra justiça no Brasil”, conclui.
Mulher de 56 anos é morta a facadas por jogador em Guarujá, SP (Foto: Solange Freitas/TV Tribuna)Mulher de 56 anos é morta a facadas por jogador em Guarujá, SP (Foto: Solange Freitas/TV Tribuna
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