Técnico de enfermagem de 22 anos se despediu antes de morrer de covid.19.


Klediston Kelps é o mais jovem profissional de saúde a morrer de covid-19 em Mato Grosso - Arquivo pessoal
Momentos antes de ser intubado, o técnico em enfermagem Klediston Kelps, 22, despediu-se da família em mensagens de WhatsApp e parecia pressentir o pior. Ele morreu no último sábado (25), após ficar um mês internado com covid-19, e tornou-se a mais jovem vítima da doença entre os profissionais da categoria em Mato Grosso, de acordo com o Coren-MT (Conselho Regional de Enfermagem de Mato Grosso). Em conversas com a mãe, ele afirmava sentir que era "um adeus". O jovem atuava na linha de frente dos atendimentos da doença, em Primavera do Leste (MT).
Além da frase de despedida, Kledison ainda enviou as senhas dos seus cartões e deu orientações de como gostaria de ser velado. Elisangela da Silva Faria, mãe do técnico em enfermagem, disse que ele teve o pulmão atingido pelo novo coronavírus, além de problemas no baço e no fígado. Em áudios, o jovem de 22 anos revelou ter medo de ser intubado e "não voltar". Elisângela explicou ao UOL que o filho chegou a fazer dois testes rápidos da covid-19, que deram negativo. A doença foi comprovada através de uma tomografia e do RT-PCR. Ele chegou a apresentar melhora no quadro da doença, mas precisou ser intubado na semana passada. Antes dele morrer, lembro que ajoelhei e pedi para Deus meme levar, mas não levar ele. Sentia que ele ia morrer. "A mãe sente a dor da morte quando o filho está morrendo. Ele aguentou até o último momento."

O técnico em enfermagem dizia que a mãe foi sua inspiração para escolher a profissão. Elisangela é técnica em enfermagem do Samu. Motivo de orgulho para a família, Klediston estava terminando a graduação em enfermagem. "Ele já estava terminando o curso de enfermagem, fazia planos, queria fazer um doutorado. Ele amava essa profissão, era o sonho da vida dele. Sempre contava sobre o trabalho, dizia que não aguentava ver a equipe desfalcada sem ajudar", explicou Elisangela. A mãe ainda desabafa que foi a "gripezinha", termo citado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no início da pandemia, que levou o filho. Ela conta que, desde a morte de Klediston, não consegue se alimenta rdormir e está afastada do trabalho para se recuperar. "Fazia plantão em UTI também, mas pedi para não ir mais, não consigo mais ver tanto sofrimento. Desde o começo sempre fui contra as medidas que o governo tem tomado com relação à pandemia. Sempre fiz oposição a esse genocida que é o Bolsonaro. Essa doença tem levado crianças, jovens e idosos", desabafou. Em nota de pesar, o Conselho Regional de Enfermagem de Mato Grosso (Coren-MT) prestou condolências à família, amigos e colegas de trabalho pela morte de uma vida "tão jovem". No estado, 22 técnicos e enfermeiros estão entre as vítimas fatais da doença. Além disso, 734 casos de profissionais contaminados pelo novo coronavírus já foram notificados.

Bruna Barbosa Pereira

Colaboração para o UOL, em Cuiabá

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